sexta-feira, 29 de maio de 2020

As histórias da Telescola - Semana de 25 a 29 de maio



As histórias da Telescola 

(Hora da Leitura/Aulas de Português)

Real...mente

 de Teresa Guedes

(1º  e 2º anos)


Poema retirado do livro "Real...mente"


Escrito, “em relevo”, está escondido o título do poema. Descobre qual é. 


“Este tear produzirá uma palavra em relevo: 
Pegue numa pequena Agulha. 
Utilize uma tesoura para suprimir os fios Inúteis. 
É preciso vigor para puxar alguNs fios. 
Não deSespere se tiver falhas e buracos. 
Retome a sua agulha e, Pacientemente
tente lIgaR as ideias, ou sejA, os fios. 
Depois para ver se há imperfeiÇões 
estique bem esse tecido, passe-lhe a mÃ
e ouça a rima no seu coraçãO.” 


O Têpluquê e outras histórias


 de Manuel António Pina

(1º  e 2º anos)


A obra


O Têpluquê e Outras Histórias - Livro - WOOK

Conto

O Têpluquê

       Era uma vez um menino que tinha um defeito de pronúncia. Não era capaz de dizer Tê: dizia quê. 
       Trocava o tê pelo quê. Trocava o têpluquê. Em vez de dizer tasa, como toda a gente, dizia casa; em vez de dizer tão, dizia cão; em vez de dizer tapete, dizia carpete (às vezes deixava uns tês para trás, deixava uns quês para crás). E assim por diante: em vez de dizer tábua, dizia cábula; em vez de dizer tu, dizia rabo; em vez de dizer Tomé, dizia Comé; em vez de dizer taxímetro, dizia caxímetro, etc. (em vez de dizer etc., dizia ecc.). 
       Esta história (em vez de dizer esta história, dizia esca escória) tem uma moral, é das que têm moral: todos os defeitos de pronúncia (como os outros defeitos todos, há uma história para cada defeito) têm também virtudes de pronúncia, senão eram defeitos perfeitos. Ao menino, como a toda a gente que tem defeitos de pronúncia, Entaramelava-se-lhe a língua; este menino tinha sorte porque, como as letras do defeito dele eram o tê e o quê, a língua Encaramelava-se-lhe e o menino gostava muito (goscava muico).

O Têpluquê in O Têpluquê e Outras Histórias de Manuel António Pina

Vídeo


O meu primeiro álbum de poesia, de Antero de Quental

Seleção de Alice Vieira

(3º e 4º anos)


A obra

Dar a Ver | Dar a Ler: O Meu Primeiro Álbum de Poesia
 Poema

As Fadas

As fadas… eu creio nelas!
Umas são moças e belas, 
Outras, velhas de pasmar… 
Umas vivem nos rochedos, 
Outras, pelos arvoredos, 
Outras, à beira do mar… 

Algumas em fonte fria
Escondem-se, enquanto é dia,
Saem só ao escurecer…
Outras, debaixo da terra,
Nas grutas verdes da serra,
É que se vão esconder…

O vestir… são tais riquezas,
Que rainhas, nem princesas
Nenhuma assim se vestiu!
Porque as riquezas das fadas
São sabidas, celebradas
Por toda a gente que as viu…

Quando a noite é clara e amena
E a lua vai mais serena,
Qualquer as pode espreitar,
Fazendo roda, ocupadas
Em dobar suas meadas
De ouro e de prata, ao luar.

O luar é os seus amores!
Sentadinhas entre as flores
Ficam-se horas sem fim,
Cantando suas cantigas,
Fiando suas estrigas,
Em roca de oiro e marfim.

Eu sei os nomes de algumas:
Viviana ama as espumas
Das ondas nos areais,
Vive junto ao mar, sozinha,
Mas costuma ser madrinha
Nos batizados reais.

Morgana é muito enganosa;
Às vezes, moça e formosa,
E outras, velha, a rir, a rir…
Ora festiva, ora grave,
E voa como uma ave,
Se a gente lhe quer bulir.

Que direi de Melusina?
De Titânia, a pequenina,
Que dorme sobre um jasmim?
De cem outras, cuja glória
Enche as páginas da história
Dos reinos de el-rei Merlim?

Umas têm mando nos ares;
Outras, na terra, nos mares;
E todas trazem na mão
Aquela vara famosa,
A vara maravilhosa,
A varinha de condão.

O que elas querem, num pronto,
Fez-se ali! parece um conto…
Mesmo de fadas… eu sei!
São condões, que dão à gente
Ou dinheiro reluzente
Ou joias, que nem um rei!

A mais pobre criancinha
Se quis ser sua madrinha,
Uma fada… ai, que feliz!
São palácios, num momento…
Beleza, que é um portento…
Riqueza, que nem se diz…

Ou então, prendas, talento,
Ciência, discernimento,
Graças, chiste, discrição…
Vê-se o pobre inocentinho
Feito um sábio, um adivinho,
Que aos mais sábios vai à mão!

Mas, com tudo isto, as fadas
São muito desconfiadas;
Quem as vê não há de rir,
Querem elas que as respeitem,
E não gostam que as espreitem,
Nem se lhes há de mentir.

Quem as ofende cautela!
A mais risonha, a mais bela,
Torna-se logo tão má,
Tão cruel, tão vingativa!
É inimiga agressiva,
É serpente que ali está!

E têm vinganças terríveis!
Semeiam coisas horríveis,
Que nascem logo no chão…
Línguas de fogo, que estalam!
Sapos com asas, que falam!
Um anão preto! um dragão!

Ou deitam sortes na gente…
O nariz faz-se serpente,
A dar pulos, a crescer…
É-se morcego ou veado…
E anda-se assim encantado,
Enquanto a fada quiser!

Por isso quem por estradas
For, de noite, e vir as fadas
Nos altos, mirando o céu,
Deve com jeito falar-lhes,
Muito cortês e tirar-lhes
Até ao chão o chapéu.

Porque a fortuna da gente
Está às vezes somente
Numa palavra que diz.
Por uma palavra, engraça
Uma fada com quem passa
E torna-o logo feliz.

Quantas vezes já deitado,
Mas sem sono, inda acordado
Me ponho a considerar
Que condão eu pediria,
Se uma fada, um belo dia,
Me quisesse a mim fadar…

O que seria? Um tesoiro?
Um reino? Um vestido de oiro?
Ou um leito de marfim?
¿Ou um palácio encantado,
Com seu lago prateado
E com pavões no jardim?

Ou podia, se eu quisesse,
Pedir também que me desse
Um condão, para falar
A língua dos passarinhos,
Que conversam nos seus ninhos…
Ou então, saber voar!

Oh, se esta noite, sonhando,
Alguma fada, engraçando
Comigo (podia ser?)
Me tocasse co’a varinha
E fosse minha madrinha,
Mesmo a dormir, sem a ver…

E que amanhã acordasse
E me achasse… eu sei! me achasse
Feito um príncipe, um emir!…
Até já, imaginando,
Se estão meus olhos fechando…
Deixa-me já, já dormir!

As fadas, Antero de Quental, O meu primeiro álbum de Poesia, seleção de Alice Vieira

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